sábado, 29 de outubro de 2011

Poesia inflamada sobre Bethânia arde em bela reedição de livro guerreiro


Resenha de reedição de livro
Título: Maria Bethânia Guerreira Guerrilha
Autor: Reynaldo Jardim
Editora: Mobile / Debê Produções
Ano da edição original: 1968
Ano da reedição: 2011
Cotação: * * * *
       
É o travo nos dentes
Guerreira
É o trevo das coxas
Guerrilha
É o grito no canto
Guerreira
É o canto de guerra
Guerrilha
É o roxo acalanto
Guerreira
É o perdão de joelho
Guerrilha 

O trecho do poema polifônico Maria Bethânia Guerreira Guerrilha indica o ponto de fervura com que  o poeta Reynaldo Jardim (1926 - 2011) escreveu os versos editados em livro lançado originalmente em 28 de novembro de 1968, duas semanas antes da promulgação do Ato Institucional nº 5. Até então título de colecionador, disputado a tapas e preços exorbitantes em sebos, o livro-poema está de volta à cena em reedição luxuosa produzida sob a organização de Marcio Debelian e Ramon Mello. Subversivo no conteúdo e na forma (Jardim transpôs o conceito musical de polifonia para o universo da poesia ao estruturar seus versos inflamados com fontes, sonoridades e tempos diversos), o longo poema Maria Bethânia Guerreira Guerrilha ocupa todo o livro original e, por si só, já justifica a reposição em catálogo desse livro perseguido pela censura dos anos mais rebeldes do regime militar instaurado à força no Brasil em 1964. Inspirado pela histórica interpretação de Carcará (João do Vale e José Cândido) apresentada por Bethânia no espetáculo Opinião em 1965, Jardim concebeu poema em chamas que traduz a incendiária força dramática do canto da intérprete ao mesmo tempo em que espalha as labaredas do inconformismo dos mais valentes contra a mordaça oficial que asfixiava as liberdades - sobretudo a de expressão - naquele ano de 1968 que parece não ter terminado a julgar pela repressão e pelo patrulhamento ainda detectados no Brasil de 2011. Talvez por isso o livro de Jardim tenha tido sua primeira edição destruída em sua quase totalidade pelo regime opressor da época. Através de Bethânia, rotulada à revelia como cantora de protesto por conta do voo alto de seu Carcará, Jardim fez ressoar pela poesia o seu canto de guerra. Os versos incandescentes de Maria Bethânia Guerreira Guerrilha ainda queimam a língua de quem se curva face aos podres poderes, mas aquecem a alma dos que se levantam contra os desmandos, dos que se jogam sem rede de proteção. Altiva desde sempre, Maria Bethânia jamais se curvou, impondo desde sempre a personalidade forte de seu canto e de sua alma embebida em teatro e poesia - traço que fica nítido na leitura do caloroso perfil sobre a intérprete, publicado na revista Visão de 30 de novembro de 1967 e reproduzido na reedição de Maria Bethânia Guerreira Guerrilha ao lado de artigo do jornal O Sol sobre a cantora, de depoimento de Jardim sobre a saga heroica do livro - fala transcrita do curta-metragem Profana Via Sacra(Alisson Sbrana, 2010) - e da partitura de Gaivota, tema musicado por Lourdes Ábido a partir de alguns versos do poema que ora volta à cena, quase tão ardente quanto naquele inflamado ano de 1968, nesta oportuna reedição do guerreiro livro.
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Visto no blog Notas Musicais do amigo Mauro Ferreira.
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12 comentários:

Vanessa Barbosa disse...

Hugo, meu lindo, tudo bom?
Vim aqui como leitora fiel e parceira amiga pra agradecer por todo apoio que voce deu para o meu blog a tempos atrás, são por causa de poucas pessoas solidárias e que torceram por mim que o blog ainda se sustenta, a passos lentos porém firmes.
Aproveitando quero dizer que seu blog continua como parceiro lá viu, nada mais do que uma forma de agradecer por tudo.
Beijão.

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Era preciso muita coragem mesmo para se postar contra os poderosos daquele tempo. Admiro esta firmeza de caráter.

Preciso ler este livro...

Abraço!

eder ribeiro disse...

São pessoas assim que fazem a História e serão sempre lembrados por seus atos. Abçs.

Átila Goyaz disse...

Muito bacana o poema e o texto!
Bethanea sempre mexendo com nossos corações...
abraços!

Roberto Machado Alves disse...

A Bethânia fez duas apresentações desse recital aqui no Rio de Janeiro e não consegui ingresso. Se esgotaram em meia hora.
Parabéns pelo belo blog.

Um abraço
Roberto

Vivian disse...

...bom dia meu lindo!

tbm estava com saudades
daqui,
porque coisa boa sempre
nos faz voltar...rsrs

bjs, alma linda!

Audrey Andrade disse...

Adorei seu canto! Sigo-te!

Meu carinho!
http://pequenocaminho.blogspot.com

Graça Pereira disse...

Maria Bethânia merece todo o nosso amor e dedicação...Ela é GRANDE! E tu fizeste esta postagem maravilhosa sobre alguem que eu muito admiro!
Parabens.
Beijo amigo.
Graça

2edoissao5 disse...

eu fiquei um pouco decepcionada com ela depois daquele reboliço sobre o blog…mas sem dúvida uma artista a ser reconhecida!

Maria Dias disse...

Q forte a poesia..Que linda a poesia...sorte achar esta joia nos sebos mas mais sorte ainda a reedição desta obra para seus adoradores.

Abraços

Maria

Diogo Didier disse...

Bravo! tinha q ser a nossa diva brasileira a quebrar barreiras politicas, sociais e musicais, fincando-se como uma artista completa...

Diogo Didier disse...

Bravo! tinha q ser a nossa diva brasileira a quebrar barreiras politicas, sociais e musicais, fincando-se como uma artista completa...