sábado, 17 de julho de 2010

Sou, fútil e sensível...



E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, perguntolhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados.
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[Fernando Pessoa]

11 comentários:

Vivian disse...

...uma cópia perfeita de todos
nós...

sabe que ngm ouve ngm de verdade, né lindo?

um beijo com saudades de ti...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

e ele voltou ... saudades daqui menino ...

;-)

Anônimo disse...

Perdidamente...
Poesia de Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Eliene Vila Nova disse...

As vezes sou assim,simplesmente assim,realmente assim.
Amei o seu blog,virei fã.
Beijos

Meri Aleixo disse...

Hugo
tu é um querido mesmo
sempre marca presença lá em meu blog,
recebo poucas pessoas lá,
mas os poucos que vão me agrada muito
e tu é um deles

Meu amigo,
Todos somos feitos de futilidades
sensibilidades
e afins humanos

essa coisa da insatisfação,
do incompleto, do querer mais...
somos assim uma coisa inacabada sempre


Abraço amigo

Caju disse...

Fernando Pessoa é um deus das palavras.

Brigadão pela visita.

Cheiro!

Rodrigo disse...

Obrigado pela visita!

=D

Anônimo disse...

Olha quem está de volta, seja muito bem vindo. Gostei do testo, esse é o ser humano, uma mistura heterogênea de sentimentos e emoções. Mamamia que foto é essa meninu! Abraços boa semana.

Rosan disse...

olá.
a grnde maioria de nós, é assim.
inconstante...sem se fixar por muito tempo numa mesma coisa.

beijinho

Liza Leal disse...

Doce privilégio ler tudo q vem dessa incrivel "Pessoa".
Bela escolha, Hugo!

=)

bjao

Daniel Savio disse...

Tudo me interessa e nada me prende.

Acho a parte mais bonita, pois os nossos interesses acabam mudando de acordo quando evoluirmos.

Fique com Deus, menino Hugo.
Um abraço.