sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dinheiro ou Coragem: o que falta na educação?


Uma pesquisa publicada no IPEA investigou o acesso das escolas públicas a serviços como água, luz, esgotamento sanitário; a existência de bibliotecas; de infra-estrutura de comunicação e informação; além de considerar o grau de formação dos professores. O resultado da pesquisa é, no mínimo, surpreendente: houve uma grande melhoria nas condições estruturais e no grau de formação dos professores, entre 1997 e 2003, mas isto não foi suficiente para mudar a realidade escolar brasileira: em termos de aprendizagem, ou tudo permaneceu o mesmo, ou chegou a piorar.
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Se consideramos apenas as escolas urbanas, que têm uma realidade bem diferente das escolas rurais, temos a seguinte situação: a porcentagem de escolas que não tinham acesso à energia caiu de 41% para 16%; as que não tinham acesso à água foram de 13% para menos de 3%; a existência de biblioteca ou sala de leitura aumentou de 57% para 64%; as escolas que contavam com computador passaram de 37% para 73%; e a proporção de docentes com educação superior foi de 42% para 66% nas escolas metropolitanas.
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Não se trata mais de melhorar as escolas, de aperfeiçoá-las, o que precisamos é ter coragem de assumir que a estrutura educacional que temos não atende a ninguém, nem aos alunos, nem aos professores, nem às famílias, nem à cidade, muito menos ao mercado. Então é urgente reinventar nosso sistema escolar, reconstruí-lo a partir de novos paradigmas. Não adianta "melhorar" instalações físicas de escolas que mais parecem prisões, sem repensar este modelo arquitetônico disciplinar. E de que adianta fazer graduação ou mestrado, se a Universidade é refém de um saber fragmentado, abstrato e distante da vida e da cidade?
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Ao invés de uma sociedade industrial, vivemos hoje a sociedade do conhecimento, que traz novas exigências e demandas. A sociedade do conhecimento se caracteriza pelo alto valor da criatividade, da inovação, da ousadia intelectual e da atitude diante destes impasses e obstáculos, que a cada dia parecem maiores. Mas nossas escolas continuam se sustentando e defendendo um padrão excludente e passivo de educação, voltado para a memorização e o acúmulo de dados, cada vez mais defasados.
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Mas há ainda muito por fazer. Enquanto a sociedade brasileira continuar acreditando que o que falta na educação é dinheiro, a péssima gestão dos recursos e as inovações conceituais e pedagógicas não serão colocadas em questão.
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Não há dúvida de que precisamos de investimentos, principalmente para oferecer um salário digno aos professores, mas nenhum investimento produzirá retornos efetivos se nossos conceitos sobre educação e gestão escolar permanecerem os mesmos. Ou recriamos nosso modelo educacional, com a inventividade que marca a sociedade que estamos vivendo, ou ficaremos pra trás e permaneceremos excluídos dos grandes processos e decisões que definem o rumo da cultura, e seguiremos, eternas vítimas de nós mesmos.
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[Viviane Mosé, psicóloga e psicanalista]
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29 comentários:

Pés de bailarina disse...

É o mal não sou do teu pais, mas do meu e de todos.
Não percebem que sem pessoas sensatas e com sentido de responsabilidade a economia e o mundo nunca avansara.

Um beijo Hugo. Bom fim de semana.

Luci Cardinelli disse...

A educação precisa de um pouco de tudo, dá tristeza...

bom final de semana!

Dalva Nascimento disse...

Triste realidade... e pensar que desse sistema depende boa parte da educação do futuro de nossa sociedade!

Bjs.

Carolinne disse...

É uma horrivel realidade, que povo brasileiro tem que enfrentar! :D

Anônimo disse...

Olá, primeiramente quero te elogiar pelo texto, parabéns. A única opinião que eu posso dar é a de leigo e cidadão, mas nunca acreditei que dinheiro fosse um fator isolado para a qualidade da educação, mesmo porque eu nao acredito de forma alguma que a escola seja a unica responsável pela educação de alguem. Falta coragem sim, nao só de pedagogos, professores ou politicos, mas de toda uma população em fazer valer aquilo que é ensinado, em seguir as recomendações, em estimular e dar suporte dentro de casa para começar. A escola pode ser perfeita, mas dificilmente algo acontecerá se houver um lar disfuncional.... tem muitas variáveis, e o dinheiro no meio disso tudo acaba sendo o de menos... Mas é apenas minha humilde opiniao, quem entende de educação pode discordar.. BJOO!

Unknown disse...

A escola se tornou uma máquina de fabricar operários...
Um sistema cada vez mais excludente e cruel! AS crianças não aprendem a ser criativas e inovadoras! E sim individualistas e reprodutoras de um conhecimento defasado!

A educação é a maior riqueza de um povo... Pena que muitos não conseguem enxergar isso.

Pelos caminhos da vida. disse...

Essa é a realidade dos Brasileiros.

Fim de semana de muitas bençãos amigo.

beijooo.

RENATA CORDEIRO disse...

Real e verdadeiro. Triste. Muito mais triste seria não revelá-lo. Calar. Publicar algo que nada tem de ver com a verdade.
Beijos mil pra ti querido e muito obrigada por existires**************************

Quanto mais me gostas, mais te gosto.
Cá está o post de agora.

*ENCOSTA-TE A MIM
Jorge Palma

Encosta-te a mim,
nós já vivemos sei lá quantos anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo pra sobreviver
em nome da terra, no fundo pra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim*

Hugo, meu amigo, tens total liberdade/imunidade para encostar em quem bem quiseres e bem te quiser*****************************
O teu nome é Amor****************************

Muito obrigada pela sempre re.novada dose de ternura****************************
+ Beijos
Renata
Há Esperança de um mundo melhor*
Volto a dormir + feliz ainda******************************

Daniel Savio disse...

Hugo, é um bom texto, mas o sistema não é apenas professores e escolas, mas também alunos, pois os mesmo tem de se mostrar aptos (ou se auto motivar) a aprender e não fazer arruaça na sala de aula...

Pois quantas vezes um aluno de poucos recursos, mas motivado aprender alcança um degrau mais auto na vida?

Fique com Deus, menino Hugo.
Um abraço.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Hugo
Faltam as duas coisas, verbas e coragem política para resolver todas as questões sobre a educação.
Bjs

vipassanacbr disse...

Nossa educação infelismente é um barco furado...
E não vai adiantar remendar o buraco, tem que refazer todo o casco daembarcação.

Ah, Estou te Seguindo \o/

Elaine Barnes disse...

Concordo com o Renato a escola é uma extensão da educação de casa.Realmente só a parte física da escola não adianta,investir na educação é um conjunto muito maior que isso. Outro dia vi na tv uma escolinha maternal onde as professoras eram concursadas e formadas. Todas batiam e humilhavam as criancinhas pouco maiores que bebes. Falta preparo, acompanhamento,cursos de atualizações,testes psicológicos para professores também.Infelizmente são poucas escolas que tem real preocupação educacional como um todo. Já gente formada em faculdade que mal sabem escrever. Outro dia fizeram um texte com médicos formados e se fosse para passar de ano, todos seriam reprovados. Amei a matéria. Montão de bjs e excelente final de semana

Valdeir Almeida disse...

Olá, amigo!

A psicóloca está absolutamente certa. Há anos, todos sabemos que é necessário investir mais no "humano" que compõe a escola (professor, aluno, e até mesmo a comunidade). Aliado a isso, é preciso colocar abaixo toda estrutura da educação institucional que temos para estabelecer um novo modelo, aquele pautado no conhecimento, afinal, hoje, é o conhecimento que determina os paradgmas e não mais a indústria.

Olha, já voltei a blogar. Ficaria muito feliz se você me colocasse novamente entre seus favotitos.

Abração.

Valdeir Almeida disse...

Ah, e quando puder, dá uma pasasadinha lá no meu blog.

Anônimo disse...

Eu sou professora,atualmente exerço o cargo de direção.
Aqui,na minha cidade os problemas são inúmeros,muitos impossíveis de resolver.O q falta na verdade é à habilidade de contornar essas questões com sabedoria de modo q ñ afete o aprendizado do aluno.
Digamos:Se virar com o q temos e dar o melhor de nós,mas ñ é o q está acontecendo.Os professores andam desmotivados e empurram com a barriga,as cobranças por uma solução são enormes e por conta disso o aluno é o maior prejudicado. Alguém tem q ceder amiga se ñ,a coisa fica ruim.
Um lindo dia e um beijo grande.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

taí ... aplaudindo a opinião do Rê ... cheia de verdades ...

oportuna reflexão proposta pela Mosé e aqui compartilhada por vc ... parabéns ...

bjux

;-)

Majoli disse...

Escolha digna pra ser publicada.

Viviane Mosé disse realmente, ao meu ver, o que falta.

Parabéns Hugo pela sua escolha.

Beijos.

Atreyu disse...

Educação do Brasil é uma tristeza!

Dauri Batisti disse...

Mas dá esperança ver educadores como o Hugo com esta consciência.

Belo artigo este da Viviane.

Um abraço.

Vivian disse...

...Hugo querido, estou com o
Renato quando diz que a
responsabilidade cabe a todos
nós, quando bem sabemos que
as conivências com o certo
ou errado, é que faz um país
perfeito, ou não...

beijo, querido!

Viviana Ruiz disse...

Oieeeeee
Legal o texto, viu?
pois bem, cada criança é tbm refém deste sistema precário.
bjOus

Vanderson disse...

Arrasou a Viviane!
Somos vítimas de nós mesmos!
abraçoo

RENATA CORDEIRO disse...

Meu querido estou sempre aqui. Quando vc publicar, eu volto.
Teadoro!
Beijos da Rê

Elcio Tuiribepi disse...

Exatamente Hugo...é uma questão de conteúdo e consci~encia do que está sendo ensiando...
Há desemudar isso, mas acredito que deva ser lá nas primeiras séries para não ocasionar num problema que vem se arrastando...a falta de base...isso impede mudanças...
Um abraço na alma...

Pena disse...

Admirável Amigo:
Um Post oportuno e imenso de significado.
Registo:
"...Ao invés de uma sociedade industrial, vivemos hoje a sociedade do conhecimento, que traz novas exigências e demandas. A sociedade do conhecimento se caracteriza pelo alto valor da criatividade, da inovação, da ousadia intelectual e da atitude diante destes impasses e obstáculos, que a cada dia parecem maiores..."

Perfeita intervenção educativa.
Passa-se um pouco desta realidade pelo mundo inteiro.
Há que investir mais na educação das nossas crianças que tudo merecem.
Abraço amigo gigante pela sua gigantesca significação.

pena

Excelente, amigo.
Bem-Haja, pela preciosidade que é.
MUITO OBRIGADO pela simpatia no meu blogue.
É admirável.

Paula Barros disse...

É impressionante que tantas evoluções no mundo a educação ainda não conseguiu evoluir e acompanhar o desenvolvimento dos alunos.

bjs

Drigo disse...

essa realidade tem q ser mudada,
assim num há país que vá pra frente!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

De fato, é muito mais do que apenas dinheiro, masé preciso reformular toda essa estrutura educacional. Rever os parâmetros e renovar a maneira como se educa. É algo mais do que investir na auto-estima dos professores, mas no suporte que alimenta o sistema. só dessa maneira o sistema pode ser capaz de não afundar.

Abração

=)

Três Egos disse...

Olá Hugo, tudo bem?

Ótimo texto, isto nos atualiza e percebemos que aumentar a infra-estrutura das escolas não adiantam nada se não existir um plano pedagógico coerente que satisfaça este mundo do conhecimento. Acredito que isto não se vê nas campanha políticas, né?!... hehehehe...

Grande abraço,

Apolo