terça-feira, 10 de março de 2009

A Hora da Estrela


A hora da estrela é também uma despedida de Clarice Lispector. Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa.É pelos olhos do narrador e através de seu domínio da palavra que a existência e a essência são expostas como interrogações. Tal presença masculina retrata um universo de fragmentos, onde o ser humano não é respeitado, mas desacreditado nessa reconstrução de uma realidade mutilada.Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice. A despedida de Clarice é uma obra instigante e inovadora. Como diz o personagem Rodrigo, estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. É Clarice contando uma história e, ao mesmo tempo, revelando ao leitor seu processo de criação e sua angústia diante da vida e da morte.




Macabéa (Maca) foi criada por uma tia beata, após a morte dos pais quando tinha dois anos de idade. Acumula em seu corpo franzino a herança do sertão, ou seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheia de si e da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca se deu conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.Ignorava até mesmo porque se deslocara de Alagoas até o Rio de Janeiro, onde passou a viver com mais quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha como datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que fica na Rua do Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio Relógio, especializada em dizer as horas e divulgar anúncios, talvez identificando com o apresentador a escassez de linguagem que a converte num ser totalmente inverossímil no mundo em que procura sobreviver. Tinha como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções de Hollywood na década de 1950.Macabéa recebe de seu chefe, Raimundo Silveira, por quem ela estava secretamente apaixonada, o aviso de que será despedida por incompetência. Como Macabéa aceita o fato com enorme humildade, o chefe se compadece e resolve não despedi-la imediatamente.Seu namorado, Olímpico de Jesus, era nordestino também. Por não ter nada que ajudasse Olímpico a progredir, ela o perde para Glória, que possuía atrativos materiais que ele ambicionava.Glória, com certo sentimento de culpa por ter roubado o namorado da colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso, empresta-lhe dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro namorado. Macabéa vai, então, à cartomante, que, primeiro, lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta; depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, prediz-lhe um futuro maravilhoso, já que ela deveria casar-se com um belo homem loiro e rico - Hans - que lhe daria muito luxo e amor.Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida de futuro', encantada com a felicidade que a cartomante lhe garantira e que ela já começava a sentir. Então, logo ao descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um luxuoso Mercedes Benz amarelo. Esta é a hora da estrela de cinema, onde ela vai ser "tão grande como um cavalo morto". Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci”. Há uma situação paradoxal: ela só nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de sua morte. Por isso antes de morrer repete sem cessar: “Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou”. Por ter definido a sua existência é que Macabéa pronuncia uma frase que nenhum dos transeuntes entende: “Quanto ao futuro.” (...) “Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.”Com ela morre também o narrador, identificado com a escrita do romance que se acaba.



É uma obra incomparável. Na verdade a própria Clarice é incomparável.

15 comentários:

Nanda Assis disse...

deve ser um ótimo livro.

bjosss...

FRAN "O Samurai" disse...

Oi amigo!

Faz tempo que não passo por aqui né? Voltei novamente. Hehehe.

Adoro Clarice, incomparável Clarice.

Valeu pelo texto e pela dica de leitura. Não li esse livro ainda.

Abraço.

Andreia disse...

Ainda não conhecia!

Paula Barros disse...

Ler Clarice e ainda resumir, de uma forma esclarecedora e inteligente, é para poucos.

Adorei. Me deu vontade de reler. Com uma nova visão.

abraços

Glayce Santos disse...

Na verdade, na verdade mesmo, eu ainda não consegui, sem desmerecer, sentir vontade de conhecer mais da Clarice, então...
Mas amo literatura brasileira.
beijos

nd disse...

Apesar de não ser fã da Clarisse, algumas coisas que ela escreveu eu concordo.

Amigo, saudades de ti,

Bjs

Germano Viana Xavier disse...

Um obra fundamental da literatura brasileira contemporânea.

Acabo de escrever sobre um livro importante também.

Abraço forte, meu caro.
Feliz por teu retorno ao Clube.

Continuemos...

Serginho Tavares disse...

clarice é deus

Anônimo disse...

o final do sua postagem disse tudo ela seria umas das mulheres que eu escolheria pra ser

Poeta Mauro Rocha disse...

Clarice sempre!!!!

Um abraço!!

Unknown disse...

Eu li e pra falar é um dos otimos livros dela...

abraços

Anônimo disse...

ainda não li esse livro, mas já ouvi falar maravilhas sobre ele... pretendo ler logo...

ótima semana
Bjs

Thiago disse...

Esse é livro é muito bom assim como quase todos da Clarice! A maneira dela escrever ainda continua a cativar e prender a atenção.

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho "Premio da Amizade" la pra vc.

beijooo.

Me permita disse...

Clarice é maravilhosa! Tudo o que ela escree parace que se encaixa perfeitamente em nossas almas...