quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tempo que foge!






Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

Soli Deo Gloria.
Autor: Ricardo Gondim 
Foto: aqui

domingo, 27 de janeiro de 2013

A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS





Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. 

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. 

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. 

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. 

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. 

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. 

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. 

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. 

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. 

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? 

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista. 

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. 

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. 

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.


*Texto escrito por Fabrício Carpinejar postado em sua página no Facebook em homenagem ao trágico incêndio que ocorreu na Boate Kiss no dia 27 de janeiro de 2013, na cidade Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Carta de Amor





Não mexe comigo
que eu não ando só
eu não ando só
que eu não ando só
Não mexe não
Não mexe comigo
que eu não ando só
eu não ando só
que eu não ando só
.
Tenho zumbi, besouro, chefe dos tupis. Sou tupinambá. Tenho os erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura, morubixabas, cocares, arco-íris, zarabatanas, curare, flechas e altares. A velocidade da luz no escuro da mata escura, o breu, silêncio, a espera… Eu tenho Jesus, Maria e José, Todos os pajés na minha companhia.
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos, o poeta me contou.
.
Não misturo, nao me dobro. A rainha do mar anda de mãos dadas comigo. Ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim. É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo, garante meu sangue e minha garganta. O veneno do mal não acha passagem. No meu coração Maria acende sua luz e me aponta o caminho.
.
Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã. Giro o mundo, viro, reviro. To no reconcavo, quem fez. Voo entre as estrelas, brinco de ser uma. Traço o Cruzeiro do Sul com a tocha da fogueira de João menino. Rezo com as 3 Marias. Vou além. Me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas. Durmo na forja de algum. Mergulho no calor da lava dos vulcões, corpo vivo da alma de Xangô.
.
Não ando no breu…
Nem ando na treva…
É por onde eu vou
que o santo me leva
Não ando no breu…
Nem ando na treva…
É por onde eu vou
que o santo me leva
.
Medo não me alcança, no deserto me acho. Faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo. Meus pés recebem bálsamos: Unguentos suave das mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro, No oásis de Bethânia. Pensou que ando só? Atente ao tempo. Não começa nem termina, é nunca, é sempre. É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra. Fulmina-me justo. Deixa nua a justiça
.
Eu não provo do teu fel
Eu não piso no teu chão
E pra onde você for
Não leva meu nome não
E pra onde você for
Não leva meu nome não
Eu não provo do teu fel
Eu não piso no teu chão
Pra onde você for
Não leva meu nome não
E pra onde você for
Não leva meu nome não
.
Onde vai valente? Você secou. Seus olhos insones secaram. Não veem brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua cegueira. Seus ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer som. Nem o bem nem o mal pensam em ti. Ninguem te escolhe. Você pisa na terra e não a sente, apenas pisa. Apenas vaga sobre o planeta. E já nem ouve as teclas do teu piano. Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona. Não tem alma. Você é o oco do oco do oco do sem-fim do mundo.
.
O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar.
O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu…
.
Eu posso engolir você, só pra cuspir depois. Minha fome é matéria que você não alcança. Desde o leite do peito da minha mãe até o sem-fim dos versos, versos, versos, que brotam no poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi. Se choro, quando choro, minha lágrima cai é pra regar o capim que alimenta a vida. Chorando eu refaço as nascentes que você secou. Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio.
.
Vivo de cara pro vento, na chuva. E quero me molhar. O terço de Fátima e o cordão de Ghandi cruzam meu peito: sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta.
.
Não mexe comigo
que eu não ando só
eu não ando só
que eu não ando só
Não mexe não
Não mexe comigo
que eu não ando só
eu não ando só
que eu não ando só
Não mexe comigo…

[Maria Bethânia]

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

São Paulo


Conhecer São Paulo foi uma das melhores experiências das minhas férias... Passei um mês nesse mundão e gostei muito. De início, fiquei maravilhado com os arranha-céus existentes, os pontos históricos e a grandeza da cidade. Conheci ótimos lugares, assistir bons trabalhos artísticos, curtir em alguns bares da Vila Madalena, da Rua Augusta e jantei no Terraço Itália apreciando a vista da cidade em 360º... É surpreendente! Comprei na 25 de Março...Por lá encontramos de tudo um pouco. Visitei o Mercado Municipal e o Bairro da Liberdade (por um momento achei que estava no Japão, pois é o maior reduto da comunidade japonesa na cidade, a qual, por sua vez, congrega a maior colônia japonesa do mundo). Acho que todo baiano em seu primeiro contato com a cidade deve ter tido a mesma sensação.


Um dos lugares que gostei de conhecer em Sampa, foi a Estação Luz...Construída no fim do século XIX com o objetivo de sediar a recém criada Companhia São Paulo Railway, de origem britânica, assim como de se constituir na parada paulistana de sua linha ferroviária, a qual ia de Santos, no litoral do estado, a Jundiaí, no interior. Nas primeiras décadas do século XX, foi a principal porta de entrada à cidade de São Paulo.


     Encantado com a beleza e história do Mosteiro de São Bento. 
 

A cidade possui vários museus e na oportunidade conheci o Masp e o Ipiranga, mas foi o Museu da Língua Portuguesa que me envolveu, me apaixonei. Ele é composto das mais diversificadas exposições nas quais são utilizados objetos, vídeos, sons e imagens projetadas em grandes telas sobre a língua portuguesa.




Sou apaixonado por poesia e quando encontrei esse painel inteiro recheado de poesias, fiquei super feliz.


O Cisne Negro no lago do Parque Ibirapuera. 


As tardes no Parque do Ibirapuera foram necessárias para contato mais próximo com a natureza. Amei conhecer esse lugar. 



A vida noturna de São Paulo é cheia de surpresas, são vários bares e casas noturnas. Existem opções para todos os tipos de público e bolsos, desde os que só estão a fim de um chopinho com os amigos até os que querem ver o dia raiar na rua. Com sua fascinado pelas batidas das boates (casas noturnas ou baladas), todos os finais de semana o meu roteiro era conhecer uma diferente.
Na The Week curtir os melhores sábados...É uma boate super badalada, cheia de gente bonita e com um ótimo agito. A minha despedida de Sampa foi lá...rsrs. Dancei muito... 


A sexta-feira era na Bubu...Puro fervoo...O público dessa boate é mais solto. Já estou até com saudades das noites de Sampa, mas já estou planejando meu retorno pra maio ou junho, porém vou passar poucos dias dessa vez.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Respeito tem consciência



O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.


Respeito não tem cor nem raça. Respeito tem consciência.
 
 

domingo, 18 de novembro de 2012

"VEJA que lixo", por Jean Wyllys


Eu havia prometido não responder à coluna do ex-diretor de redação de Veja, José Roberto Guzzo, para não ampliar a voz dos imbecis. Mas foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que eu dominei meu asco e decidi responder.

A coluna publicada na edição desta semana do libelo da editora Abril — e que trata sobre o relacionamento dele com uma cabra e sua rejeição ao espinafre, e usa esses exemplos de sua vida pessoal como desculpa para injuriar os homossexuais — é um monumento à ignorância, ao mau gosto e ao preconceito.

Logo no início, Guzzo usa o termo “homossexualismo” e se refere à nossa orientação sexual como “estilo de vida gay”. Com relação ao primeiro, é necessário esclarecer que as orientações sexuais (seja você hétero, lésbica, gay ou bi) não são tendências ideológicas ou políticas nem doenças, de modo que não tem “ismo” nenhum. São orientações da sexualidade, por isso se fala em “homossexualidade”, “heterossexualidade” e “bissexualidade”. Não é uma opção, como alguns acreditam por falta de informação: ninguém escolhe ser homo, hétero ou bi. O uso do sufixo “ismo”, por Guzzo, é, portanto, proposital: os homofóbicos o empregam para associar a homossexualidade à ideia de algo que pode passar de uns a outros – “contagioso” como uma doença – ou para reforçar o equívoco de que se trata de uma “opção” de vida ou de pensamento da qual se pode fazer proselitismo.

Não se trata de burrice da parte do colunista portanto, mas de má fé. Se fosse só burrice, bastaria informar a Guzzo que a orientação sexual é constitutiva da subjetividade de cada um/a e que esta não muda (Gosta-se de homem ou de mulher desde sempre e se continua gostando); e que não há um “estilo de vida gay” da mesma maneira que não há um “estilo de vida hétero”.

A má fé conjugada de desonestidade intelectual não permitiu ao colunista sequer ponderar que heterossexuais e homossexuais partilham alguns estilos de vida que nada têm a ver com suas orientações sexuais! Aliás, esse deslize lógico só não é mais constrangedor do que sua afirmação de que não se pode falar em comunidade gay e que o movimento gay não existe porque os homossexuais são distintos. E o movimento negro? E o movimento de mulheres? Todos os negros e todas as mulheres são iguais, fabricados em série?

A comunidade LGBT existe em sua dispersão, composta de indivíduos que são diferentes entre si, que têm diferentes caracteres físicos, estilos de vida, ideias, convicções religiosas ou políticas, ocupações, profissões, aspirações na vida, times de futebol e preferências artísticas, mas que partilham um sentimento de pertencer a um grupo cuja base de identificação é ser vítima da injúria, da difamação e da negação de direitos! Negar que haja uma comunidade LGBT é ignorar os fatos ou a inscrição das relações afetivas, culturais, econômicas e políticas dos LGBTs nas topografias das cidades. Mesmo com nossas diferenças, partilhamos um sentimento de identificação que se materializa em espaços e representações comuns a todos. E é desse sentimento que nasce, em muitos (mas não em todas e todos, infelizmente) a vontade de agir politicamente em nome do coletivo; é dele que nasce o movimento LGBT. O movimento negro — também oriundo de uma comunidade dispersa que, ao mesmo tempo, partilha um sentimento de pertença — existe pela mesma razão que o movimento LGBT: porque há preconceitos a serem derrubados, injustiças e violências específicas contra as quais lutar e direitos a conquistar.

A luta do movimento LGBT pelo casamento civil igualitário é semelhante à que os negros tiveram que travar nos EUA para derrubar a interdição do casamento interracial, proibido até meados do século XX. E essa proibição era justificada com argumentos muito semelhantes aos que Guzzo usa contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirma o colunista de Veja que nós os e as homossexuais queremos “ser tratados como uma categoria diferente de cidadãos, merecedora de mais e mais direitos”, e pouco depois ele coloca como exemplo a luta pelo casamento civil igualitário. Ora, quando nós, gays e lésbicas, lutamos pelo direito ao casamento civil, o que estamos reclamando é, justamente, não sermos mais tratados como uma categoria diferente de cidadãos, mas igual aos outros cidadãos e cidadãs, com os mesmos direitos, nem mais nem menos. É tão simples! Guzzo diz que “o casamento, por lei, é a união entre um homem e uma mulher; não pode ser outra coisa”. Ora, mas é a lei que queremos mudar! Por lei, a escravidão de negros foi legal e o voto feminino foi proibido. Mas, felizmente, a sociedade avança e as leis mudam. O casamento entre pessoas do mesmo sexo já é legal em muitos países onde antes não era. E vamos conquistar também no Brasil!

Os argumentos de Guzzo contra o casamento igualitário seriam uma confissão pública de estupidez se não fosse uma peça de má fé e desonestidade intelectual a serviço do reacionarismo da revista. Ele afirma: “Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar”. Eu não sei que tipo de relação estável o senhor Guzzo tem com a sua cabra, mas duvido que alguém possa ter, com uma cabra, o tipo de relação que é possível ter com um cabra — como Riobaldo, o cabra macho que se apaixonou por Diadorim, que ele julgava ser um homem, no romance monumental de Guimarães Rosa. O que ele, Guzzo, chama de “relacionamento” com sua cabra é uma fantasia, pois falta o intersubjetivo, a reciprocidade que, no amor e no sexo, só é possível com outro ser humano adulto: duvido que a cabra dele entenda o que ele porventura faz com ela como um “relacionamento”.

Guzzo também argumenta que “se alguém diz que não gosta de gays, ou algo parecido, não está praticando crime algum – a lei, afinal, não obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais, ou de espinafre, ou de seja lá o que for”. Bom, nós, os gays e lésbicas, somos como o espinafre ou como as cabras. Esse é o nível do debate que a Veja propõe aos seus leitores.

Não, senhor Guzzo, a lei não pode obrigar ninguém a “gostar” de gays, lésbicas, negros, judeus, nordestinos, travestis, imigrantes ou cristãos. E ninguém propõe que essa obrigação exista. Pode-se gostar ou não gostar de quem quiser na sua intimidade (De cabra, inclusive, caro Guzzo, por mais estranho que seu gosto me pareça!). Mas não se pode injuriar, ofender, agredir, exercer violência, privar de direitos. É disso que se trata.

O colunista, em sua desonestidade intelectual, também apela para uma comparação descabida: “Pelos últimos números disponíveis, entre 250 e 300 homossexuais foram assassinados em 2010 no Brasil. Mas, num país onde se cometem 50000 homicídios por ano, parece claro que o problema não é a violência contra os gays; é a violência contra todos”. O que Guzzo não diz, de propósito (porque se trata de enganar os incautos), é que esses 300 homossexuais foram assassinados por sua orientação sexual! Essas estatísticas não incluem os gays mortos em assaltos, tiroteios, sequestros, acidentes de carro ou pela violência do tráfico, das milícias ou da polícia. As estatísticas se referem aos LGBTs assassinados exclusivamente por conta de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero! Negar isso é o mesmo que negar a violência racista que só se abate sobre pessoas de pele preta, como as humilhações em operações policiais, os “convites” a se dirigirem a elevadores de serviço e as mortes em “autos de resistência”.

Qual seria a reação de todas e todos nós se Veja tivesse publicado uma coluna em que comparasse negros e negras com cabras e judeus com espinafre? Eu não espero pelo dia em que os homens e mulheres concordem, mas tenho esperança de que esteja cada vez mais perto o dia em que as pessoas lerão colunas como a de Guzzo e dirão “veja que lixo!”.

Jean Wyllys
Deputado Federal (PSOL-RJ)
Postagem públicada originalmente no site do Dep. Jean Wyllys

sábado, 17 de novembro de 2012

"Noite Luzidia" - DVD do show "35 anos"



Faixas do DVD:
*
1. Maria Bethânia - Banda Maria Bethânia
2. De Manhã - Caetano Veloso
3. O Canto De Dona Sinhá (Toda Beleza Que Há) - Vanessa Da Mata / Caetano Veloso
4. Dona Do Dom - Chico César
5. Primavera - Carlos Lyra / Mariana De Moraes
6. Sina De Caboclo - Maria Bethânia
7. Opinião - Maria Bethânia
8. Guantanamera - Maria Bethânia
9. Diz Que Fui Por Aí - Maria Bethânia
10. Nem O Sol, Nem A Lua, Nem Eu - Lenine
11. Quando Você Não Está Aqui - Branco Melo / Arnaldo Antunes
12. Água E Pão (Bahia) - Maria Bethânia
13. Expresso 2222 Intrumental
14. Lamento Sertanejo (Forro Do Dominguinhos - Gilberto Gil)
15. Viramundo - Gilberto Gil
16. Se Eu Morresse De Saudade - Gilberto Gil
17. Adeus, Meu Santo Amaro (Citação) - Maria Bethânia
18. Noite De Estrelas - Roberto Mendes
19. As Canções Que Você Fez Para Mim - Maria Bethânia
20. Antes Que Amanheça - Chico César
21. Juntar O Que Sentir - Renato Teixeira
22. Depois De Ter Você - Adriana Calcanhoto
23. Pra Rua Me Levar - Ana Carolina
24. Texto: Apesar Das Ruínas E Da Morte - Maria Bethânia
25. Sonho Impossível - Maria Bethânia
26. Sem Fantasia - Chico Buarque
27. A Moça Do Sonho - Chico Buarque / Edu Lobo
28. Maricotinha - Moreno Veloso / Nana Caymmi / Dori Caymmi
29. Começaria Tudo Outra Vez - Maria Bethânia
30. Alegria - Maria Bethânia
31. O Que É, O Que É? - Maria Bethânia
*
*
*
Gravado no Canecão em 04 de setembro de 2001, este show histórico celebra os 35 anos de carreira de Maria Bethânia, com participações de convidados ilustres da MPB. O DVD também mostra depoimentos de vários artistas e a passagem de som que foi o início desta grande e memorável festa.

 *

Postagem públicada originalmente no Blog Maria Bethânia Reverso

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Mamy...Arara-Canindé


Amigos, passei um feriado maravilhoso ao lado da Mamy, uma arara-canindé super linda e carinhosa. Foi paixão a primeira vista. Ela mora em uma pousada, na cidade de Ilhéus-Ba.


"Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou...É nosso dever protegê-los e promover o seu bem estar."

[Madre Teresa de Calcutá]



Os filhos da Mamy



Invadindo meu quarto..rsrs. 



domingo, 28 de outubro de 2012

Depois do Crack



Foto tirada pelo fotógrafo Osman Said, em Salvador-Ba. E ele conta que esta criança passa o dia na porta da farmácia pedindo dinheiro aos turistas para comprar leite em pó. Depois, vende o leite pela metade do preço para mulheres pobres que precisam alimentar seus filhos. Com o dinheiro da venda, o menino compra pedras de crack. 

Fonte: Foto encontrada aqui


domingo, 14 de outubro de 2012

Por que ser professor?







Inspirei-me no educador Paulo Freire (1921–1997) para escrever este texto. Paulo Freire nos fala, em Pedagogia da Autonomia, seu último livro, da “boniteza de ser gente”, da boniteza de ser professor: “Ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.

Paulo Freire chama a atenção para a essencialidade do componente estético da formação do educador. Por isso, coloquei um título que fala de sonho e de sentido. “Sentido quer dizer caminho não percorrido”, mas que se deseja percorrer; portanto, significa projeto, sonho, utopia.

Aprender e ensinar com sentido é aprender e ensinar com um sonho na mente; e a pedagogia deve servir de guia para realizar esse sonho.

Paulo Freire, em 1980, logo após voltar de dezesseis anos de exílio, reuniu-se com um grande número de professores em Belo Horizonte, Minas Gerais. Falou-lhes de esperança, de “sonho possível”, temendo por aqueles e aquelas que “pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar”; aqueles e aquelas que, “em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora, em lugar dessa viagem constante ao amanhã, atrelem-se a um passado de exploração e de rotina”.

Em 1997, dezessete anos depois, em Pedagogia da Autonomia, lançado três semanas antes de seu falecimento, Paulo Freire se mantinha fiel à mesma linha de pensamento, reafirmando o sonho e a utopia diante da “malvadez neoliberal”, diante do “cinismo de sua ideologia fatalista e da sua recusa inflexível ao sonho e à utopia”. Denúncia de um lado, anúncio de outro: a sua pedagogia da autonomia frente à pedagogia neoliberal.

Lembrando os dez anos da morte de Paulo Freire neste pequeno artigo-livro, quero retomar o que ele disse e entender o seu significado no contexto de hoje. Paulo Freire nos falava da “boniteza do sonho de ser professor” de tantos jovens desse planeta. Se o sonho puder ser sonhado por muitos, deixará de ser um sonho e se tornará realidade.

A realidade, contudo, é muitas vezes bem diferente do sonho. Muitos de meus alunos e minhas alunas, seja na pedagogia ou na licenciatura, não pensam em se dedicar às salas de aula. Muitos revelam desinteresse em seguir a carreira do magistério, mesmo estando num curso de formação de professores. Pesam muito nessa decisão, as condições concretas do exercício da profissão. Preparam-se para um ofício e vão exercer outro.

No Brasil, o professor é desvalorizado. Há um ditado popular conhecido: “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”. É sinistro. Essa destruição da imagem do professor custará muito caro, dizia já em 1989 o jornalista Leonardo Trevisan: “Todos dizem que gostam muito dos professores, mas não chegam a incomodar-se muito com o fato de que há tempos eles recebem um salário de fome. O salário é a parte mais visível de uma condição — da qual decorre um papel social que se descaracterizou por completo... Só quem não quer ver não percebe o sentimento de cansaço, de esgotamento de expectativas de quem encarava com dignidade o seu desempenho profissional”.

A situação vem se arrastando há anos. Em 45 anos de magistério, não tenho visto grandes melhorias. Ao contrário, ouço muitas promessas. As melhorias existem aqui e acolá, mas são pontuais e localizadas — servem apenas de exemplo —; são conjunturais, e não estruturais; são provisórias, passageiras, e não permanentes. Correspondem a uma política de governo, e não a uma política pública de Estado. Por isso, continuo me questionando: “Por que sou professor?”. Uma pergunta que ouço com frequência também entre meus pares.

A resposta talvez possa ser encontrada numa mensagem deixada por um prisioneiro de campo de concentração nazista, na qual, depois de viver todos os horrores da guerra — “crianças envenenadas por médicos diplomados; recém- -nascidos mortos por enfermeiras treinadas; mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades” —, ele pede aos professores que “ajudem seus alunos a tornarem-se humanos”, simplesmente humanos. E termina: “Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas”.

Talvez esteja aí a chave para entender a crise que vivemos: perdemos o sentido do que fazemos, lutamos por salários e melhores condições de trabalho sem esclarecer à sociedade sobre a finalidade de nossa profissão, sem justificar por que estamos lutando.
 
O que me leva agora a escrever este artigo-livro é justamente esse imperativo histórico e existencial que me obriga a colocar a questão do sentido que estou fazendo. Qual é o papel do educador na escola, na Educação? O que um professor pode fazer, o que ele deve fazer, o que é possível fazer?

Em inúmeras conferências que tenho feito a professores e professoras, por este país e fora dele, apesar de constatar um grande mal-estar entre os docentes — misturado a decepção, irritação, impaciência, ceticismo, perplexidade —, paradoxalmente, existe ainda muita esperança. A esperança ainda alimenta essa profissão. Há uma ânsia por entender melhor por que está tão difícil educar hoje, fazer aprender, ensinar; ânsia para saber o que fazer quando todas as receitas governamentais já não conseguem responder. A maioria dessas professoras — as mulheres são quase totalidade —, com a diminuição drástica dos salários, com a desvalorização da profissão e com a progressiva deterioração das escolas, procura cada vez mais cursos e conferências para obter uma resposta que não encontraram nem na sua formação inicial nem na sua prática atual.

Entretanto, poucas são as vezes em que essas professoras encontram respostas nesses cursos. Quase sempre, ou encontram receitas tecnocráticas que causam ainda maior frustração ou encontram profissionais da “pedagogia da ajuda”, que encantam com suas belas e sedutoras palavras, fazem rir enormes plateias numa catarse coletiva. As educadoras voltam mais vazias do que entraram depois de assistirem ao show desses falsos pregadores da palavra. Voltam com as mesmas perguntas: “O que estou fazendo aqui?”, “Por que não procuro outro trabalho?”, “Para que sofrer tanto?”, “Por que, para que ser professor?”.

Se, de um lado, a transformação objetiva nas condições das nossas escolas não depende apenas da nossa atuação como profissionais da Educação, de outro lado, creio que, sem uma mudança na própria concepção desse ofício, essa transformação não ocorrerá tão cedo. Enquanto não construirmos um novo sentido para a nossa profissão, sentido esse que está ligado à própria função da escola na sociedade aprendente, esse vazio, essa perplexidade, essa crise deverão continuar.

Em sua essência, ser professor hoje não é mais fácil do que era há algumas décadas. É diferente. Diante da velocidade com que a informação se desloca, envelhece e morre; diante de um mundo em constante mudança, o papel do professor vem mudando, se não na essencial tarefa de educar, pelo menos na tarefa de ensinar, de conduzir a aprendizagem, e na sua própria formação, que se tornou permanentemente necessária.

As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de lá, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar “fora” — na informação disponível nas redes de computadores interligados — serviços que respondam às suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se fortalecendo, não apenas como espaço de trabalho, mas também como espaço de difusão e de reconstrução de conhecimentos.

Na formação continuada, necessita-se de maior integração entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial), visando a preparar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento. Como previa Herbert Marshall McLuhan (1911–1980), na década de 1960, o planeta tornou-se nossa sala de aula e nosso endereço. O ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para aprendizagem. O espaço da aprendizagem é aqui, em qualquer lugar; o tempo de aprender é hoje e sempre.

Hoje, vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” e da utilização de conhecimentos e muito mais além da assimilação de conhecimentos. A sociedade do conhecimento é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem. As consequências para a escola, para o professor e para a Educação em geral são enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer síntese e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância.

Nesse contexto, o professor é muito mais um mediador do conhecimento diante do aluno, que é o sujeito da sua própria formação. Não confundir “mediador” com “facilitador”. As máquinas, os meios, os computadores são facilitadores. O professor é um dirigente. Mais do que um facilitador, é um problematizador; sua função é político-pedagógica. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimentos a partir do que faz. Para isso, o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. Ele deixará de ser um “lecionador” para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.

Em resumo, poderíamos dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador e, sobretudo, um organizador da aprendizagem. Se falamos do professor de adultos e do professor de cursos a distância, esses papéis são ainda mais relevantes. De nada adiantará ensinar se os alunos não conseguirem organizar o seu trabalho, se não forem sujeitos ativos da aprendizagem, autodisciplinados, motivados.

“Ser professor não será um ofício em risco de extinção?”, pergunta-se Luiza Cortesão. Sim, um certo professor está em risco de extinção. O funcionário da eficácia e da competitividade pode existir, mas terá se demitido da sua função de professor. Diz ela que há hoje uma evidente contradição entre o professor “em branco e preto”, o professor “monocultural” — bem-formado, seguro, claro, paciente, trabalhador e distribuidor de saberes, eficiente, exigente — e o professor “intermulticultural”, que não é um “daltônico cultural”; que se dá conta da heterogeneidade; é capaz de investigar, de ser flexível e de recriar conteúdos e métodos; é capaz de identificar e analisar problemas de aprendizagem e de elaborar respostas às diferentes situações educativas. Um não se pergunta por que ser professor. Simplesmente cumpre ordens, currículos, programas, pedagogias. Outro questiona-se sobre seu papel. Um está concentrado nos conteúdos curriculares, e outro no sentido do seu ofício. Sim, um certo professor está em risco de extinção. E isso é muito bom. — O que é ser professor hoje?

— Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores.

Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber — não o dado, a informação, o puro conhecimento — porque constroem sentido para a vida das pessoas e para humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos.

Por isso, eles são imprescindíveis.

 
Fonte: GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: Ensinar-e-aprender com sentido. São Paulo: Livraria e Instituto Paulo Freire, 2008.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ética e Política nas eleições






O Brasil, em trinta anos, avançou muitíssimo em matéria democrática. Antes, nosso recorde de liberdade democrática eram as duas décadas incompletas entre o fim da ditadura Vargas e o começo do regime militar. De 1982 para cá, mudou bastante coisa. O partido comunista foi legalizado - ele tinha sido proibido ao longo de quase toda a sua história. A inflação, que fazia troça da Política, foi controlada. As políticas sociais, que eram sacrificadas em nome da luta contra a inflação, vieram para ficar. A sociedade brasileira, até 2005, era uma pirâmide, na qual as classes A/B tinham menos gente que a C, que era menor que as D/E. Em 2010, era já um losango, no qual a classe C supera tanto as mais ricas quanto as mais pobres. Cinquenta milhões de pessoas subiram da pobreza para classe média. Hoje, ninguém concorre ao poder com chances se não tiver um projeto de maior inclusão social. Em três décadas, fomos da ditadura, com má distribuição de renda, para uma democracia que parece consolidada. Este é o quadro das eleições deste ano.

O auge da vida democrática é o momento do voto. A democracia, regime em que a maioria escolhe os governantes, é também o regime da igualdade, em que todos têm o mesmo valor, sejam ricos ou pobres, integrados ou excluídos. Por isso, tenho sustentado que ela é o regime mais ético que existe. Melhor dizendo, é o único regime que hoje podemos considerar ético. As formas de governo que a teoria antigamente chamava de monarquia ou aristocracia, considerando-as legítimas, atualmente apenas podem ser chamadas de ditaduras. Uma ditadura, em nossos dias, é ilegítima. Só a democracia é legítima.

Mas, surge um problema sério. Na Ética, operamos com o certo e o errado, o bem e o mal. Não existe uma tabela única do certo e errado "em si", ou "para Deus", ou para a humanidade inteira. Divergências ocorrem. Mas, sejam quais, forem, concordamos quanto a muitos valores. "Não matarás" é um deles, mesmo que discutamos como defini-lo: esse preceito proíbe a legítima defesa? Inclui a falta de solidariedade como o famito? Em que pesem essas diferenças, quando falamos em Ética, atribuímos valores, positivos e negativos, às condutas.

Dá para fazer o mesmo na Política? Faz parte da essência da democracia o direito à divergência. Mas aplicar o critério do certo e errado à Política pode nos levar a só tolerar um lado, condenando o outro como errado, desonesto, imoral. Isso significa abolir a discordância. Quem pensa assim, se chegar ao poder, é um perigo - porque terá o DNA do ditador. O mínimo, numa democracia, é ter dois lados opostos, divergentes, mas, respeitados. Porém, se eu aplicar o modelo da Ética à Política, entenderei que um lado é o bem, e o outro, o mal; e portanto, tentarei impedir "o mal" até mesmo de concorrer. Assim, foi a perseguição ao comunismo, no Brasil, mesmo quando não tínhamos uma ditadura escancarada. Assim foi a perseguição aos partidos liberais nos regimes comunistas. 

Há saída? O mais óbvio é: a Ética é um pré-requisito. Queremos, de todos os canditados, que sem honestos. Que não sejam antiéticos. E, entre os postulantes decentes, optaremos por critérios políticos. Quem preferir a solidariedade, vonte na esquerda. Quem tiver espírito empreendedor, vá para direita. Cada um escolheria em duas etapas. Mas isso só é simples na teoria. Até porque, no Brasil e mundo afora, o ataque mais fácil de fazer e que requer menos inteligência é, extamente, a acusação de antiético ao adversário. É preciso grandeza de espírito para sair dessa incapacidade de pensar o que desejamos construir. Porque propor a Política é formular o futuro.

Texto escrito por Renato Janine - professor da USP
Foto: disponível aqui

A educação básica cabe no município?





As eleições deste ano devem nos levar a discutir uma prioridade constitucional dos municípios, a educação. Esta é a sexta eleição de prefeitos e vereadores sob a Constituição de 1988, que deu ao município a atribuição de zelar pela educação básica, tendo os Estados como parceiros e a União... ela, bem ao longe. É hora de cobrar duas questões dos candidatos: o que propõem para o nível de educação mais relevante que há, o inicial, que forma as crianças e define boa parte de seu futuro? E se até agora esses gestores não deram conta de melhorar a educação fundamental e o ensino médio, darão um dia? Será o caso de pensar seriamente na proposta do ex-senador Cristovam Buarque - ex-ministro da Educação, verdadeira usina de ideias - que diz que a educação básica, importante que é, tem de ser federalizada?



Foto disponível aqui



Postagem publicada em Valor Econômico